
Ao som de músicas natalinas e de clássicos da música brasileira, como Fogo e paixão, de Wando, e É preciso saber viver, dos Titãs, os corredores do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) ganharam um novo ritmo na manhã desta terça-feira (16). Com violão e toucas de Papai Noel, artistas locais percorreram setores da instituição, interagindo com pacientes, acompanhantes e funcionários. A ação faz parte do projeto “Vozes que curam”, iniciativa que desde 2018 leva música a instituições como forma de cuidado.
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Idealizado pela fonoaudióloga Carla Viegas, a edição deste ano teve a participação de Léo Pain, vencedor do The Voice Brasil 2021, a cantora Daiane Diniz e o músico Janu Uberti. Além da música, o passeio também foi cheio de abraços, apertos de mão, sorrisos e palmas, que ajudaram a manter o ritmo da apresentação.

Para Carla, a proposta vai além da apresentação musical. Trata-se de criar encontros humanos em um espaço marcado pela dor, espera e vulnerabilidade.
– Vamos cantando e levando alegria pelos corredores do hospital, e é impressionante o quanto essa alegria traz bem-estar, cura e esperança. Quando chegamos aqui, achamos que vamos dar alguma coisa e, de forma alguma, acabamos recebendo muito. O carinho que recebemos aqui transborda em nossos corações.
A escolha do repertório também faz parte do cuidado. Mas também ocorrem momentos de improviso. Os músicos conversam com pacientes e acompanhantes, aceitando pedidos ao longo da visita.
– Na medida em que vamos cantando diferentes tipos de música, com cantores muito competentes e de diversos estilos, passamos pelos leitos, pelos corredores, perguntando o que as pessoas querem ouvir. E essa alegria move de uma forma que o hospital se transforma – comenta a fonoaudióloga.

Histórias que se cruzam

O grupo circulou pelas instalações do Husm e, em cada andar, era um sentimento diferentes. Adultos e crianças eram contagiados pela melodia e quem não sabia cantar, ajudava a ditar o ritmo com as palmas. No setor pediátrico, a emoção tomou conta de Joscelaine dos Santos Siqueira, 40 anos, ao reconhecer Léo Pain. Na porta do quarto, ela aguardava o cantor para contar que a filha, Kauanny Siqueira Pereira, 20, é uma grande fã. A jovem está em tratamento de leucemia mieloide aguda.
– A torcida dela lá em casa quando ele estava participando do The Voice foi grande. Na época, ela tinha 14 anos. Desde então, ela acompanha ele. Não estávamos esperando essa visita. Ela é tímida, mas vai ficar bem feliz. Quero tirar uma foto dos dois – disse a mãe.
Para Léo, que já havia participado do projeto em edições anteriores, ações como essa ajudam a transformar ambientes marcados pela dor e pela apreensão em espaços de acolhimento:
– São dessas iniciativas que a humanidade precisa. Esse é um dos benefícios que a música pode trazer. Transformar esse ambiente que, para muitas pessoas, não traz uma sensação tão positiva, mas conseguir trazer uma calmaria nesse fim de ano, nesse momento
Ele lembra, inclusive, de uma experiência vivida na edição de 2022, quando entrou em um dos quartos do hospital sem saber que ali estava um vizinho que enfrentava um problema de saúde. Tempos depois, ele recebeu uma visita, que reforçou o sentido do projeto.
– Dias depois, a esposa dele foi lá em casa me agradecer, muito emocionada, pelo que a gente tinha feito. Isso marca muito a gente — relembra.

Já em outra sala do setor, estava a pequena Martina, 6 anos, acompanhada da mãe, Ana Lúcia Teixeira, de 35 anos. As duas estão no Husm desde a última sexta (12), passada, quando a menina foi internada para tratar uma crise asmática. Nesta terça, Martina recebeu alta e pôde ir para casa. Para marcar o último dia de internação, o grupo cantou Ciranda, Cirandinha especialmente para ela. Para Ana Lúcia, o gesto teve um significado profundo:
— Essa visita, ver vocês passando de quarto em quarto, é muito bom. Porque a gente aqui dentro fica muito cansado, cansado mentalmente, fisicamente. A gente vê tanta coisa, tanta criança em sofrimento, como eu mesma presenciei aqui. Hoje eu vou para casa, mas quantas mãe vão ficar aqui com os filhos, né? Faz total diferença, na verdade.
