Rota Fiergs reúne empresários e líderes em Santa Maria para debater desafios da indústria gaúcha

Santa Maria recebeu, nesta quinta-feira (31), o evento Rota da Indústria – Região Central, promovido pela Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs). Realizado no Itaimbé Palace Hotel, o encontro reuniu representantes de sindicatos patronais, empresários, lideranças regionais e políticas, militares e integrantes do Sistema S.

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O objetivo da ação foi aproximar a Fiergs do Interior e ouvir, diretamente das bases industriais, as dificuldades e prioridades para o setor produtivo. O presidente da entidade, Claudio Bier, destacou que a interiorização é um compromisso assumido pela atual gestão.

— Nós estamos com a casa cheia, e essa é a interiorização da Fiergs, isso é um braço da nossa administração. Quando assumimos a Fiergs, nós vimos que tínhamos uma necessidade de ir até o interior do Estado para que, aqui na ponta, nós conseguíssemos ver as dificuldades que as indústrias gaúchas têm. Já é a quinta região que nós estamos visitando, e vamos fazer mais cinco, de um total de 10. Todo esse pessoal que aqui está vai ter acesso a um questionário, vão poder manifestar suas demandas ali, e as cinco ou seis mais votadas serão levadas para Fiergs para que, juntos, possamos ajudá-los a resolver os problemas — afirmou Bier.

Formada por 48 municípios, como Santa Maria, Alegrete, Cachoeira do Sul e Uruguaiana, conforme divisão adotada pelo Sistema Fiergs, a Região Central abriga cerca de 3,4 mil indústrias (6,5% das 52 mil empresas do setor no Rio Grande do Sul), empregando 35 mil pessoas.

Segundo Bier, o deslocamento da diretoria da Fiergs até diferentes regiões do Estado é uma forma concreta de ouvir os empresários fora da Capital:

— Uma coisa é estar lá em Porto Alegre, no "castelo", como eu digo. Nós saímos para vir aqui, para ouvir das indústrias da região quais são as suas dificuldades. Cada um vai falar as suas dificuldades, e nós vamos, dentro do possível, tentar resolver. 

Fiergs alerta para impactos do tarifaço dos EUA nas exportações

Claudio Bier também falou sobre os efeitos da taxação imposta pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, em especial ao setor industrial gaúcho:

— O Rio Grande do Sul é o segundo Estado em exportação para os Estados Unidos, ficando atrás, apenas, de São Paulo. E dessas novas regras que vieram hoje (ontem), só 15% do Rio Grande do Sul não foram afetados. Ou seja, 85% do que nós exportamos vai ser tarifado em 50%, o que deixa a indústria gaúcha entre as mais prejudicadas do país.

Questionado sobre possíveis soluções para o setor, o presidente da federação acrescentou:

Infraestrutura e logística são gargalos, afirma dirigente local

O vice-presidente da Fiergs e coordenador da Região Central, Júlio Kirchhof, ressaltou que o encontro buscou mapear demandas locais, como as dificuldades de infraestrutura que afetam o crescimento da indústria:

— A Fiergs vem até o Interior para buscar demandas das regiões. E aqui, nós julgamos que uma das grandes demandas que temos é a questão da infraestrutura. Nós estamos, hoje, praticamente sem ferrovia. E as estradas estão em condições precárias. Na verdade, é bem complicado o sistema de estradas. E com relação ao aeroporto, as linhas aéreas também apresentam dificuldades. Cada vez mais, os nossos voos estão diminuindo. Isso tudo dificulta o desenvolvimento da nossa região. Nós precisamos começar por aí, melhorando a infraestrutura. Não tem como aumentar a demanda para depois arrumar as estradas. Tem que arrumar antes para ter demanda.

Kirchhof também avaliou os pontos fortes da indústria na Região Central:

— A indústria no sistema de consórcio de construção vem forte aí na cidade. Nós temos, também, o setor metal-mecânico bastante significativo. Temos uma indústria de confecções, que é pequena, mas tem vários empreendedores nesse setor. Tem uma indústria moveleira também bem significativa. É claro que Santa Maria ainda está longe de ser um setor essencialmente industrial. Mas o desenvolvimento do mercado passa, necessariamente, pelo aumento do setor industrial. Porque o PIB da indústria é um, e precisa aumentar, porque é onde nós temos maiores salários. Para mim, a indústria é fundamental para o desenvolvimento da região.

Qualificação para jovens do Exército

Durante o evento, foi assinado um convênio entre a Fiergs e o Comando Militar do Sul (CMS) para viabilizar o programa Soldado Cidadão, voltado à qualificação profissional de jovens que cumprem serviço militar obrigatório. A meta é ofertar 10 mil vagas até 2027, com cursos técnicos, oficinas e eventos de empregabilidade, a serem ofertados pelas unidades do Senai, Sesi e IEL ainda neste ano.

O comandante da 3ª Divisão de Exército, general Paulo Roberto Rodrigues Pimentel, enfatizou a importância do programa:

— O jovem vem servir o Exército, faz um sacrifício muito grande. Obviamente que ele também sai com um orgulho muito grande, mas a gente precisa agregar um algo a mais. E esse algo a mais é justamente pegar esses jovens, que vêm de uma camada não muito privilegiada da sociedade, na maioria das vezes, e oferecer uma iniciação profissional. Praticamente 100% dos jovens que entram no projeto, de alguma forma, buscam alguma profissão e se formam na atividade. Esses garotos, além de nos ajudarem no dia a dia das nossas atividades no quartel com a sua profissão, saem da caserna capacitados, e retribuem a sociedade de alguma maneira. Eu acho que isso é muito interessante. No ano passado, foram quase 1,7 mil jovens contemplados. Com a ampliação do programa, e com a assinatura no dia de hoje (ontem), vão ser 10 mil vagas até 2027, ou seja, que vai ampliar bastante o nosso programa.

Construção civil e os desafios do mercado

O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Santa Maria (Sinduscon/SM), Samir Frazzon Samara, avaliou positivamente a interiorização da Fiergs, principalmente pelo espaço para apresentar reivindicações do setor.

— Para nós, da construção civil, é importante conseguir apresentar as necessidades da Região Central. E como já foi dito, principalmente na parte da infraestrutura. Falta logística para ir para a Capital, para ir até os grandes centros, como São Paulo. Isso está em falta aqui na região. E esse é um ponto que faz parte do custo e resulta em aumento de custo dos nossos produtos – destaca Samara.

Sobre a situação do mercado atual e os efeitos do tarifaço, o dirigente aponta preocupação com o desaquecimento das vendas e com possíveis impactos indiretos:

— O mercado, em função dos juros altos, está bem prejudicado. As vendas estão fracas. Não temos uma demanda de compradores de apartamentos, principalmente, aqui na Região Central. Isso afeta, principalmente, na geração de emprego e renda. E com relação ao tarifaço, ainda não sentimos um impacto significativo nas nossas empresas porque dependemos muito dos materiais regionais. Claro que alguns produtos tarifados não impactam diretamente nossas empresas, da construção civil, mas terá reflexo em outros setores, vai gerar inflação e, assim, afetar a indústria construção civil.