Foto Vinicius Becker
A 15ª Abertura Oficial do Plantio da Soja, realizada nesta sexta-feira (3) em Júlio de Castilhos, foi marcada por expectativa de uma safra superior à do ano passado e fortes críticas de autoridades locais e estaduais ao governo federal. A exclusão de produtores de seis municípios da região, incluindo Júlio de Castilhos, do programa de renegociação de dívidas e a percepção de falta de reciprocidade com o Rio Grande do Sul dominaram os discursos no evento. Estava prevista a presença do governador Eduardo Leite (PSD), que havia sido anunciada pelo Palácio Piratini na quinta (2), mas ele acabou não comparecendo. Representando o governador, estavam secretários estaduais.
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Perspectiva da safra

Apesar do clima político tenso, a perspectiva para a safra de soja na região é de otimismo cauteloso. Em entrevista ao Diário, Guilherme Passamani, da Emater Regional, projetou uma colheita com produção superior a 50% em relação ao ano anterior, que foi severamente afetada pela estiagem.
– A gente tem uma perspectiva de ser uma colheita bem superior ao ano passado, mas é em relação ao número que foi prejudicado. Dentro de condições ideais, a gente tem uma expectativa de uma safra normal aqui para a região – explicou.
Um fator que pode potencializar a produção é o avanço da canola. Segundo a Emater, a área plantada com a cultura de inverno cresceu 64% na região, passando de 27 mil para 45 mil hectares. O sistema de raízes da canola melhora as condições do solo para o cultivo subsequente da soja.

O principal ponto de atenção é a previsão de La Niña. O fenômeno climático pode trazer dificuldades para a cultura, mas o impacto, segundo Passamani, é incerto.
– Depende do período que ele vai se intensificar. Se for no período de floração e no período de enchimento de grãos, há grandes possibilidades de o prejuízo ser bem significativo – ponderou o técnico.
Críticas ao governo federal

O tom dos discursos no evento foi de forte cobrança ao governo federal. O prefeito de Júlio de Castilhos, Bernardo Quatrin Dalla Corte, demonstrou frustração pela exclusão do município e de vizinhos, como Jaguari, de uma portaria que permite a renegociação de dívidas de produtores rurais afetados por eventos climáticos.
– A gente começa a pensar e repensar: o que que a gente fez de errado? E a gente não acha nada. Produtores, colegas, estamos passando uma dificuldade muito, muito grande. Não temos dinheiro muitas vezes nem para comprar o diesel para as nossas propriedades, e a solução que teria que vir do governo federal, não vem – desabafou o prefeito.
O secretário estadual da Agricultura, Edivilson Brum, ampliou a crítica, afirmando que o Rio Grande do Sul não tem recebido tratamento justo da União.
– Nós deveríamos ser tratados diferentes, porque a primeira lavoura de soja plantada nesse país foi aqui no Rio Grande do Sul. Não tem uma área agrícola nesse Brasil que não tenha o suor, o trabalho de um gaúcho. Então, nós gostaríamos é de reciprocidade – declarou Brum, que também defendeu o fim da "polarização danosa" na política nacional.
Representando o governo do Estado, o secretário-chefe da Casa Civil, Arthur Lemos, atribuiu a dificuldade do Rio Grande do Sul em pautas nacionais à falta de unidade política interna.

– Posso afirmar, sim, que hoje quem está na gestão do país aproveita justamente as oportunidades quando o nosso campo político titubeia, briga entre si e acaba fragmentando. O primeiro passo é pararmos de brigarmos entre si – afirmou Lemos, defendendo o diálogo como caminho para fortalecer as demandas do Estado.
O que diz o governo federal
Sobre a exclusão de 94 municípios gaúchos da possibilidade de os produtores renegociarem as dívidas, o deputado governista Paulo Pimenta (PT) afirmou que fez várias reuniões com os ministérios da Agricultura e da Fazenda e acredita que 90% dessas cidades acabarão sendo incluídas.
- Dos seis municípios da região de Santa Maria, todos devem ser incluídos - disse Pimenta na quinta (2).