Foto: Vinicius Becker (Diário)
A rotina de quem atravessa a serra da BR-158, entre Santa Maria e Itaara, tem sido um exercício diário de paciência. Filas de carros que se estendem por quilômetros e esperas que, segundo motoristas, frequentemente ultrapassam os 40 minutos, marcam o cenário das obras de contenção de encostas. Mas onde milhares veem um transtorno, há quem enxergue uma oportunidade. Em meio ao "pare e siga", a necessidade de aguardar se transformou em fonte de renda.
Nesta sexta-feira (22), enquanto a reportagem percorria o trecho, o cenário se repetia: o trânsito lento, o som das máquinas ao fundo e a longa espera. É neste contexto que Paulo, encontra seus clientes.

– Eu sustento a minha família através da venda ambulante, do trabalho da rua. E há mais de 10 anos faço esse trabalho. Para mim, está sendo bom, é uma oportunidade. Quanto mais tempo [o trânsito] estiver parado, para mim é melhor – afirma Paulo, que rapidamente pondera: – Mas a gente tem que entender o outro lado também. Para as pessoas que trafegam todos os dias, que trabalham em Santa Maria, é mais complicado. Tem pessoas que moram em Júlio de Castilhos que aumentaram a viagem em mais de uma hora.
Uma obra complexa

A presença de vendedor como Paulo é um sintoma direto da dimensão e da demora das obras na BR-158. Iniciados em março, os trabalhos de contenção de encostas são uma resposta aos estragos causados pelas chuvas de 2024 e representam um investimento federal que ultrapassa os R$ 226 milhões.
No entanto, o ritmo das intervenções tem sido um ponto de preocupação. Conforme o Diário mostrou em reportagem de 25 de julho, a cinco meses do prazo final prometido pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) para a conclusão, apenas cinco dos 18 pontos críticos estavam com obras em andamento. Na época, o órgão justificou a lentidão citando a complexidade da engenharia, o intenso tráfego e as condições climáticas da região.
A escala do projeto, detalhada em matéria de 7 de junho, ajuda a entender os desafios: são 228 operários, muitos atuando com rapel em encostas de até 40 metros de altura, e a previsão de usar 325 toneladas de aço e mais de 3 mil metros cúbicos de concreto para estabilizar 14 quilômetros da rodovia.
Medidas para amenizar os transtornos
Enquanto a obra definitiva não avança no ritmo esperado, medidas paliativas tentam amenizar o impacto do "pare e siga" na vida da população, especialmente a de Itaara. Conforme o vice-prefeito da cidade, Zenir Oliveira, uma série de reuniões entre a prefeitura, o DNIT e a Polícia Rodoviária Federal resultou em ajustes para dar mais fluidez ao trânsito.
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