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Meu nome é Áureo Felipe Duarte, sou médico urologista e andrologista, além de professor de Urologia e Medicina Legal na Faculdade de Medicina da UFN. Gostaria de escrever, inicialmente, exatamente para este público com quem trabalho há mais de 10 anos: os estudantes de Medicina.
Quando meu filho se formou, há três anos, fiz um pequeno discurso para não atrapalhar o jantar e a festa de todos. Falei sobre como vejo a Medicina e o que as pessoas esperam de um médico.
Hoje, há uma imensa procura por essa profissão, e acho importante, no momento dessa escolha, entender alguns detalhes fundamentais para o sucesso profissional.
Serei médico
A ideia de que “serei médico, portanto serei rico” até foi uma verdade para a maioria dos profissionais há muitos anos. Hoje, médicos ainda têm um ganho médio elevado em relação a outras profissões, mas, se compararmos com o passado, essa diferença diminuiu. É importante falar sobre a questão financeira, pois alguns têm a ilusão de que facilmente ganharão muito dinheiro ao se tornarem médicos. Aqui caímos no primeiro erro ao buscar essa profissão: escolhê-la como uma oportunidade de ganho financeiro rápido e fácil.
O dinheiro na Medicina vem e pode nos proporcionar uma vida confortável, mas ele sempre deverá ser consequência de um trabalho e de uma dedicação plena, com estudo, ética e, principalmente, foco no que realmente importa: nossos pacientes. Se o dinheiro for o motivo da sua atividade profissional, e não a consequência de um bom trabalho, ocorrerão desvios que tirarão a essência principal da vida de um médico: o cuidado com o paciente.
Gratificação pessoal
Na formatura do meu filho, eu disse que a gratificação pessoal e a verdadeira sensação de vitória no exercício da Medicina não acontecem quando ganhamos muito dinheiro, recebemos um prêmio ou participamos de um grande congresso internacional. Essa sensação vitoriosa ocorre principalmente quando, ao caminhar na rua, um paciente que você tratou o reconhece e, com alegria e gratidão, demonstra felicidade em revê-lo. Isso mostra a importância que você teve na vida dele, prova que, de alguma forma, você melhorou sua qualidade de vida e, talvez, tenha até prolongado sua existência.
Dever é cuidar
Para alcançar isso, precisamos, desde os primeiros anos da faculdade, focar plenamente nos estudos, cultivar a curiosidade pelo aprendizado e entender os pacientes. Alguns chegarão até vocês gritando de dor, podendo, inclusive, usar palavras agressivas, impulsionadas pelo medo e pelo sofrimento. Mas o papel do médico sempre será acolher e tratar esses pacientes.
O médico está a serviço do paciente. Nessa relação, ele deve deixar de lado qualquer diferença pessoal, opinião política ou qualquer pensamento que possa gerar um choque com aquilo em que o paciente acredita. Nosso dever é cuidar, independentemente de qualquer outra circunstância.
Além disso, é importante que, como estudantes, vocês cuidem da própria aparência. Nossa profissão utiliza o branco justamente para simbolizar e preservar a limpeza de nossas roupas. Todos merecem ter um médico que cuide bem de si mesmo. E, quando falo sobre isso, não me refiro apenas a cortes de cabelo ou roupas da moda, mas a uma postura e vestimenta que respeitem os princípios básicos da Medicina. Da mesma forma que ninguém mergulha em água suja, ninguém quer ser atendido por alguém que não demonstre higiene e zelo.
Vocês escolheram uma profissão que, se bem compreendida, pode proporcionar uma imensa realização. O verdadeiro foco da Medicina é o paciente. Se vocês entenderem isso, têm tudo para serem felizes no exercício dessa vocação.
Acredito que Deus não nos colocou na Terra para provar que Ele é bom, mas para que nós possamos mostrar a Ele o quanto conseguimos ser bons. O exercício da Medicina, quando feito com ética, dedicação aos estudos e, principalmente, amor aos pacientes, é uma grande oportunidade de demonstrarmos isso.