Foto: Cristian de Moraes Teixeira (Especial)
Foi impossível não vir à tona o trauma da boate Kiss com o incêndio, na noite de sexta-feira (26), em parte de um dos prédios do Colégio Marista Santa Maria, um dos mais tradicionais da cidade. As chamas se alastrando e a fumaça preta que poderia ser observada ao longe em meio a casas e prédios comerciais e residenciais em pleno Centro causaram muita apreensão.
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Felizmente, ao contrário da Kiss em que morreram 242 pessoas e centenas ficaram feridas, desta vez, vidas não foram perdidas. Escapamos de outra tragédia graças ao trabalho incansável dos bombeiros, que, com certeza, não atuaram nas melhores condições tanto de equipamentos quanto de efetivo, o que tornou a missão mais difícil. Aos colegas de trabalho na escala, somaram-se os que estavam de folga e mais bombeiros de cidades da região, além de caminhões, mobilizando cerca de 70 profissionais. Civis também ajudaram.
Ao mesmo tempo em que tomavam medidas para conter as chamas, os bombeiros evacuaram os prédios nos arredores para não colocar vidas em risco. Foi um trabalho longo e difícil, já que o fogo só foi controlado, às 22h30min, três horas após o início do incêndio, às 19h30min. Foi um alívio não ter vítimas, já que os danos materiais se recuperam. Entretanto, o fato de não ter vidas perdidas não pode servir de consolo e nem de zona de conforto. Muito menos maquiar as condições ou a falta delas em que a corporação trabalha em Santa Maria.
Este ano, a Câmara instalou uma comissão para averiguar a situação do 4º Comando de Bombeiro Militar da cidade e apresentou um relatório apontando diversas carências (veja abaixo), além de fazer recomendações. Reivindicações, inclusive, foram levadas ao Comando-Geral, em Porto Alegre. Também o Diário, em julho, publicou reportagem sobre as carências da corporação, entre elas a falta de uma autoescada mecânica (magirus) para incêndios em prédios altos.
– A comissão constata que o Corpo de Bombeiros Militar em Santa Maria desempenha suas atividades com extrema dedicação, porém opera em condições abaixo das ideais, especialmente no que se refere à estrutura física, efetivo, frota e equipamentos – diz um trecho do relatório do colegiado, constituído por Adelar Vargas (MDB), João Ricardo Vargas (PL) e Tony Oliveira (Podemos).
Ainda sobre a estrutura e o trabalho dos bombeiros, o vereador Tubias Callil (PL) publicou um depoimento em sua rede social após o incêndio.
– Os bombeiros são uns heróis, eu pude acompanhar, os bombeiros não têm um caminhão com escada para chegar até o incêndio. Se não fossem os seres humanos, bombeiros, talvez seria muito pior. Que bom que não teve nenhuma vítima! Eu vi o esforço sobrenatural que eles fizeram arriscando suas vidas, caindo laje, caindo pau com fogo... Uma coisa muito triste de ver aquele prédio centenário caindo e homens e mulheres embaixo, apagando o incêndio no braço, sem se quer uma estrutura adequada. É lamentável que o Estado não perceba isso – afirmou Tubias em sua rede social.
No sábado, o comandante-geral do Corpo de Bombeiros Militar no Estado, coronel Julimar Fortes Pinheiro, esteve em Santa Maria e avaliou que a estratégia adotada de isolamento do fogo e as demais ações foram exitosas dentro dos equipamentos disponíveis na cidade. Já sobre a ausência de autoescada, ele afirmou que a falta do equipamento não trouxe prejuízo à operação, frisando que o caminhão de combate a incêndio é mais importante, com custo de cerca de R$ 2 milhões, do que uma magirus, que pode chegar a R$ 11 milhões.
Sem dúvida foi importante a presença, após o incêndio, do comandante-geral na cidade da Kiss, só que é preciso medidas concretas. Afinal, a vida não tem preço. Nós, imprensa, e autoridades temos obrigação de fazer cobranças. De pecar pelo excesso, não pela omissão.