Onde a arte repousa: a beleza escondida entre os túmulos do Ecumênico

Fundado em 1860, o Cemitério Ecumênico Municipal de Santa Maria é um dos locais que contribui para o registro da história da cidade. No local, estão sepultadas figuras que foram consideradas importantes para o desenvolvimento do município: políticos, militares, advogados, médicos e empresários. Muitos descansam em sepulturas construídas com arquitetura imponente e que hoje fazem do Ecumênico um lugar, que além de memória, de contemplação à arte, proporcionando um outro tipo de experiência para quem irá percorrer o cemitério neste Dia de Finados, celebrado neste domingo.

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Os primeiros jazigos construídos são de famílias de origem alemã. Isso porque o cemitério foi erguido no espaço onde, inicialmente, a Comunidade Luterana local construiu uma opção de sepultamento para não católicos. Depois disso, ele se expande e chega às dimensões atuais. Hoje, o Ecumênico é o maior do centro do Estado e guarda alguns dos sepultamentos mais antigos na região, sobretudo, na parte inicial, onde era chamado "o cemitério alemão", numa posição localizada mais ao fundo do portão principal.

Túmulos como distinção social

Os túmulos mais antigos, datam do final do século 19 e início do 20 e ostentam em suas fachadas detalhes que chamam a atenção, como esculturas e bustos em mármore ou bronze, placas, fotografias, inscrições, pilares e tamanhos consideráveis que os destacam dos demais. A maioria construída por uma marmoraria de Porto Alegre, a Casa Aloys. A explicação para essas características reflete na posição em que a pessoa ou a família ocupava na Santa Maria do passado. Uma maneira de se ser visto ainda após a morte. São exemplos as famílias Niederauer, Scherer, Brenner, Beck, entre outras.

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Personalidades de Santa Maria

Entre os filhos ilustres sepultados no Ecumênico, estão José Mariano da Rocha, fundador da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); Dr. Astrogildo de Azevedo, fundador do Hospital de Caridade; Dr. Pantaleão, primeiro médico da cidade. Também repousam no local muitas outras personalidades da história de Santa Maria que dão nome às principais ruas e praças da cidade e que, assim como eram notáveis em vida, também estão enterrados em túmulos arquitetônicos.

Arte Cemiterial

A arte cemiterial – ou arte tumular – pode ser definida como um conjunto de obras de arte e arquitetura criados para adornar sepulturas, jazigos e mausoléus. Essa forma de expressão artística, também conhecida como arte funerária, utiliza materiais diversos como mármore e granito e abrange desde esculturas a construções complexas. Dos cinco cemitérios públicos de Santa Maria, o Ecumênico é o único que possui túmulos que se enquadram no conceito da arte cemiterial.

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Cemitérios como Patrimônio Histórico

Para muitas pessoas, cemitérios são lugares de tristeza que remetem à solidão e à saudade, mas não para o arquiteto e urbanista Alex Scherer. Há cerca de 10 anos, ele iniciou um movimento de preservação e valorização dos jazigos mais antigos do Ecumênico. Mestre em patrimônio cultural, foi em uma disciplina do mestrado, cursado na UFSM, ministrada pela professora Fernanda Kieling Pedrazzi, que o interesse pelo tema despertou. Ao longo da década, Scherer se debruçou em pesquisar a história do Ecumênico e das famílias e a catalogar os túmulos em um vasto acervo que reúne fotos, documentos e recortes de jornal.

– No final do século 19 até a metade do 20, o cemitério de Santa Maria foi enriquecido com muitas obras baseadas em catálogos da época que reproduziam tendências europeias, porque era esse o gosto das elites da época – explica o pesquisador, que sabe de cor a localização de cada túmulo.

Turismo Cemiterial

Para ele, o Cemitério Municipal tem um grande potencial de atrair turistas que se interessem pelo tema, a exemplo do que acontece com o Cemitério da Recoleta, em Buenos Aires, ou o da Consolação, em São Paulo.

– O que encontramos na cidade, também encontramos no cemitério. Os monumentos funerários estabelecem um diálogo entre os mortos e os vivos, pois nos auxiliam a compreender as diversas manifestações da sociedade perante a morte. Os cemitérios projetam valores, crenças e estruturas econômicas, étnicas e religiosas, por exemplo, e que formam um museu a céu aberto – evidencia Scherer.

Vandalismo

De dezembro de 2018 a março de 2019, muitos túmulos foram alvos de saques por criminosos, que removeram estátuas, placas, lápides e outros detalhes que caracterizam as sepulturas. Um dos exemplos é o de Astrogildo de Azevedo em que levaram lápides e uma réplica em bronze do Cristo Redentor. O túmulo perdeu toda sua identificação que foi recolocada, posteriormente, por uma neta do médico em um material diferente do original, principalmente para que as pessoas saibam que ali está a sepultura dele. Na época, uma investigação chegou a ser aberta, mas que nunca foi concluída e muitos túmulos até hoje acabaram perdendo aquilo que mais o caracterizavam e que não se fabricam mais.

Significados de símbolos e elementos 

• Epitáfio - É a inscrição que encontra-se na lápide. Ela envolve informações sobre nascimento e morte e ainda compreende alguma homenagem escrita sobre o falecido. Pode ser um discurso voltado para a pessoa ali sepultada ou para informar o público que circula no cemitério.
• Anjo - Figura que representa aquele que cuida da alma e irá conduzir a travessia terrena aos céus.
• Pietá - Estátua de virgem Maria, sofredora na morte de seu filho crucificado nos braços, representa o desejo que a alma seja bem recebida
• Cruz - Simboliza fé. Com pontas agudas remete à aflição. 
• Ramos - Representam a vida eterna.
• Tocha - Com fogo virado para baixo representa a finitude da vida terrena
• Papoula - É uma flor que representa o sono eterno, o repouso da alma.
• Pranteadoras - Estátuas que choram por seus mortos.