Fotos: Renan Mattos (Diário)
Quem pensa que é somente na Serra Gaúcha e Catarinense que faz frio ou que cai neve, está enganado. Em dias em que a temperatura despenca, a formação de geada acaba sendo um fenômeno natural na Região Central. Depois de sentir o frio em Arroio Grande, interior de Santa Maria e mostrar a realidade das crianças que acordam antes do sol nascer para ir para a escola, a equipe do Diário levantou da cama ainda mais cedo na sexta-feira com um destino próximo, porém mais alto: a localidade de Linha dos Pomeranos, que fica no interior de Agudo.
O objetivo era registrar a formação de geada, mas não foi dessa vez. O vento intenso e gelado misturado com a nebulosidade da madrugada, impediram a formação de gelo, conforme explica o meteorologista Gustavo Verardo. Porém, não descarta-se que os campos verdes amanheçam bem branquinhos neste final e semana.
Região registra terceiro dia seguido com temperatura negativa e geada
Dezenas de famílias de pequenos agricultores moram na zona mais alta do município. Para chegar no morro cujo ponto mais alto fica a cerca de 500 metros acima do nível do mar, é preciso encarar 25 quilômetros de estrada de chão.

O fotógrafo Erni Bock, 73 anos, foi o guia da reportagem, que chegou ao local antes mesmo do sol nascer. Pelas ruas, o vento intenso e gelado fazia companhia aos moradores que quase não foram vistos logo cedo. O silêncio pairava por lá.
O relógio marcava 7h quando a funcionária da Escola Municipal Santo Antônio, que mora perto da instituição, acendeu a luz e abriu o portão para que esperar os cerca de 130 alunos. Josie Loureiro, 37, é merendeira e servente e, mesmo estando acostumada com a temperatura baixa que faz na localidade, ela estava bem encolhida e reclamando o vento forte.
- Vocês são corajosos! (disse para a equipe de reportagem). Na quinta-feira, o dia foi lindo, teve geada, mas nesta sexta-feira, não. Hoje tem muito vento, só o fogão a lenha para enfrentar o frio - comenta Josie.
A família Estrasulas, de descendentes de alemães, olhava o amanhecer do dia pela janela da cozinha. Do lado de fora, a fumaça da chaminé da casa indicava que o fogão a lenha estava aquecendo o ambiente desde cedo do lado de dentro.
- Hoje está bem frio, não teve geada, mas por causa do vento a sensação é de mais frio ainda. Por isso, o chimarrão e o fogão a lenha ajudam a aquecer toda família e também para fazer comida - disse Carla Lipke Estrasulas, 38 anos, agricultora.
O marido dela, Alcione Cidnei Estrasulas, 39, é um dos pomeranos que está acostumado com as baixas temperaturas. Ele acorda de chinelo, mas quando vai para a lavoura coloca as botas de borracha.
Antes de ir para a escola, a filha do casal, Larissa Estrasula, 11 anos, tomou chimarrão com os pais e os avós, Ivane Lipke Krummenauer, 67 e Lordi Lipke, 76, para espantar o frio. Inclusive, toda a família afirma que prefere verão, já que o local é alto e por lá o vento é mais fresquinho nos dias quentes. A família reservou a sexta-feira para cuidar da lavoura de soja e fumo, além dos outros produtos que são a principal fonte de renda deles.
NEVE HÁ 19 ANOS
Natural de agudo e descente de alemão, Erni Bock, 73 anos, sempre gostou de fotografar. Funcionário público aposentado, ele teve sorte de registrar por três vezes a neve na localidade de Linha dos Pomeranos, nos anos de 1984, 1994 e 2000. Nesta sexta-feira ele circulou com a reportagem do Diário pelo local, mas dessa vez não houve registro de gelo. Ao retornar no ponto mais alto do interior, ele lembra dos registros da neve.