O fazer médico é diverso: atender e orientar pacientes, assinar receitas, solicitar exames. Uma das coisas que pouco se fala, mas que faz parte de suas atividades é educar. O médico é um educador. Ele detém um conhecimento – que pode até se transformar em sabedoria – que vai além da técnica.
Quando fui convidado para escrever sobre envelhecimento e longevidade para o Diário, em um primeiro momento duvidei de minha capacidade para a tarefa. Mas optei por aceitar o desafio e, ao longo de três meses, escrever textos e submetê-los ao corpo editorial do jornal para ver se seriam adequados à publicação – inicialmente como uma experiência. Já se vão 18 meses e estou conseguindo manter minha coluna quinzenal. E tem sido uma atividade muito satisfatória, da qual dificilmente abriria mão. Dar voz às minhas impressões, ter a oportunidade de compartilhar temas que me são de grande interesse, ou seja, as questões relacionadas ao processo de envelhecimento e como vivenciá-lo da melhor maneira possível, com qualidade de vida, independência e autonomia, é algo que só pode se traduzir em satisfação pessoal. Ao ouvir das pessoas que gostaram da coluna ou que o assunto que abordei tem relevância, me faz pensar que estou cumprindo meu papel como educador.
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Um papel amplo, com várias facetas
O papel do médico como educador tem várias facetas: ele pode ser professor de medicina – mesmo em outras áreas da saúde; ao conversar com seus pacientes e familiares, frequentemente necessita fornecer informações sobre as doenças e seus tratamentos; atualmente, grande parte dos hospitais, sejam públicos ou privados, tem estratégias de educação continuada, onde onde o médico democratiza seus saberes específicos para com seus colegas. Sem falarmos em eventos, congressos, simpósios – hoje disponíveis também, através de várias formatos, pela internet. Em suma, praticamente o tempo todo recebemos informações, que podem representar, eventualmente, fatos transformadores para a prática.
Neste aspecto, as informações necessitam de algumas características essenciais: devem ser éticas, idôneas e equilibradas. Vivemos um tempo de excesso de informações – a infodemia, termo cunhado pela Organização Mundial de Saúde por ocasião da Pandemia pelo Covid 19 – e muitas dessas são de má qualidade. E a disseminação delas, particularmente pelas redes sociais, são extremamente perniciosas para a sociedade. O envelhecimento, enquanto fenômeno universal, que vem ocorrendo de forma acelerada, é alvo frequente de informações distorcidas, com objetivos comerciais e políticos, e infelizmente (e não quero que isso seja entendido como etarismo, o preconceito em relação aos idosos) as pessoas mais velhas têm dificuldade de discernimento e são vítimas de informações errôneas, muitas vezes de má-fé.
Compartilhamento
A possibilidade de poder compartilhar conhecimentos sobre inúmeras situações que ocorrem na velhice, falar sobre doenças comuns e sua abordagem clínica e possibilidades terapêuticas, refletir sobre artigos publicados em revistas médicas consagradas, tem sido uma forma de concretizar meu papel de educador. Tenho bastante liberdade editorial, com raras discordâncias, que procuramos conciliar. Também não tenho quaisquer restrições relativas aos assuntos abordados.
Embora escrever é algo que me agrade e guarde uma constância em minha vida, é a primeira vez que esta possibilidade se abre: escrever para um veículo de relevância regional. As pessoas lêem o Diário de Santa Maria – é a principal forma de se manterem informados sobre o que acontece na cidade e região. E falar sobre envelhecimento é necessário: como citamos, é um fenômeno universal, e o conhecimento sobre suas características e mazelas fornece às pessoas instrumentos para enfrentar os desafios – pessoais, familiares, sociais e mesmo espirituais – que ele apresenta. Ter uma coluna dedicada a refletir sobre a velhice é uma atitude vanguardista e que temos tido uma excelente oportunidade de fazer disso uma realidade, através desta contribuição regular com o jornal. Claro, temos expectativas que nossos textos tenham repercussões positivas e venham a contribuir para o entendimento que as pessoas tem sobre envelhecimento e longevidade. E esperamos que as informações aqui propaladas guardem, no seu cerne, as características que se fazem essenciais: que sejam éticas, idôneas e equilibradas. Meu agradecimento ao Diário de Santa Maria, seus editores e jornalistas e, sem dúvida, ao leitor. Como em Medicina o paciente está no centro do cuidado, no jornalismo este papel é ocupado pelo leitor.