Rodovia da Quarta Colônia registra 9 mortes em 10 meses e preocupa moradores

Foto: Renan Mattos (Diário)
Nesta curva, o proprietário o empresário Marco Fank bateu contra um poste e morreu em outubro do ano passado

A ERS-149, na Região Central, tem se mostrado uma estrada letal para quem trafega pela rodovia: pista simples sem acostamento, curvas fechadas e iluminação deficitária.

A rodovia, em julho de 2017, começou a passar por obras. À época, ela foi contemplada com recursos previstos junto ao Contrato de Restauração e Manutenção (Crema) Santa Maria-Cachoeira do Sul, que prevê investimento de R$ 158,17 milhões, com recursos financiados junto ao Banco Mundial (Bird), para recuperar um total de 251,2 quilômetros de estradas estaduais até 2021. 

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Nesses quase dois anos, a rodovia obteve avanços: houve a recuperação de trechos com a retirada do asfalto mais danificado e o reforço do pavimento. Medidas que, de certa forma, favorecem ao aumento da velocidade, embora o limite seja de 80 km/h. Porém, ao longo do segundo semestre do ano passado e nestes primeiros meses de 2019, a rodovia apresentou número que mostram o quão perigosa a 149, em boas condições, pode ser.

Levantamento da reportagem aponta que, de julho de 2018 até o mês passado, o trecho da rodovia de Formigueiro à Quarta Colônia registrou nove mortes. Mais da metade (5) foi por atropelamento. As quatro restantes se deram em acidentes de trânsito. No caso mais grave, três jovens perderam a vida após a caminhonete em que estavam capotar.  

EMPRESÁRIO
O outro caso, que repercutiu em Santa Maria, foi a morte do empresário Marco Antonio Fank, 60 anos, um dos donos do Restaurante Augusto. Ele dirigia uma motocicleta no fim da tarde de um domingo, no mês de outubro, quando perdeu o controle do veículo em uma das curvas da ERS-149 e colidiu contra um poste de iluminação. 

São, ao todo, pouco mais de 90 km que se dividem em dois trechos: um que vai da BR-392 (em São Sepé) até a RSC-287 (em Restinga Sêca), e o outro que vai da RSC-287, na localidade de Santuário, até Nova Palma.  

Nesses trechos, o que se pode ver é desde pontos já recuperados até outros em obras. Em comum uma mesma situação: a falta de acostamento. Ainda assim, em trechos compreendidos entre Restinga Sêca e o Balneário Passo das Tunas, a estrutura foi melhorada com a conclusão dos serviços de manutenção asfáltica e colocação de sinalização.

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Após a fase de restauração do pavimento da ERS-149, que deve terminar neste ano, fica prevista a continuidade das ações de manutenção, o que ficará a cargo das empresas contratas pelo Crema até 2021. 

Uma rotina de acidentes e de perigo constante, relatam moradores da rodovia 
A agricultora Elaine Dotto, 56 anos, ainda lembra da tarde do dia 21 de outubro do ano passado, quando tomava chimarrão na frente de casa onde mora com a família, no momento em que um motociclista bateu contra um poste, em uma curva em frente à residência. Era Marco Antônio Fank, proprietário do Restaurante Augusto de Santa Maria. Ela conta que foi a primeira a chegar no local do acidente e acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas o empresário não resistiu aos ferimentos. 

- É uma curva muito perigosa. E os motoristas costumam correr muito nessa estrada. Nesse caso do Marco, ele nem estava andando tão rápido, mas se perdeu na curva. Até hoje não entendo o que aconteceu - lembra a agricultora.

O trecho fica na localidade de Ribeirão, em São João do Polêsine, no km 125 da ERS-149. Elaine, que vive no local há 15 anos, diz que quase todas as semanas ouve estouros de carros que bateram contra o poste ou contra a proteção no acostamento da rodovia.

- Nesse tempo que moro aqui, já presenciei mais de 50 acidentes. Alguns graves, outros nem tanto. Quando tem festa, então, o pessoal bebe e não consegue virar a curva direito. Até construímos nossa casa longe da rodovia por medo dos acidentes - afirma.

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A costureira Lindomar de Lima Soldatti, 62 anos, vizinha de Elaine, atribui à imprudência dos motoristas a causa da maioria dos acidentes na rodovia. 

- Tem motorista que acha que está em um pista de corrida. Não tem respeito. Esse é o principal problema. Também tem pouco acostamento ao longo de toda a estrada e em alguns trechos falta proteção - relata Lindomar.

Foto: Renan Mattos (Diário)
Nesta curva, Escobar foi atropelado enquanto fazia caminhada 

CAMINHADA
O acidente mais recente registrado na rodovia foi em 24 abril. Mauro Escobar, 50 anos, foi atropelado enquanto caminhava pelo acostamento. O acidente também aconteceu em uma curva, na altura do km 89, na localidade de Vila Progresso, em Restinga Sêca. O motorista fugiu do local sem prestar socorro.  

Os moradores comentam que acidentes no local são comuns. De acordo com a agricultora Taciele Londero, 29 anos, muitos caminhões se envolvem em colisões no trecho, já que o movimento de veículos pesados é intenso por causa de uma cooperativa da região.

- É uma estrada muito estreita, mal tem acostamento e a iluminação é precária. Se formos ver, foi isso que ocasionou esse último atropelamento. O Mauro morava aqui perto, todo dia ele passava fazendo caminhada. Como tem pouco acostamento, e a iluminação está ruim, o motorista não deve ter visto. Tem cada coisa que a gente vê por aqui, ultrapassagens arriscadas, alta velocidade - conta Taciele.

*Colaborou Janaína Wille

ACIDENTES FATAIS
Relembre os acidentes que resultaram em nove mortes na ERS-149 entre julho de 2018 e abril deste ano, conforme levantamento do Diário: 

2019 

Janeiro

• Alaci Inês Sartori, 55 anos, morreu em um acidente de trânsito em Restinga Sêca. Vítima dirigia um carro no sentido Restinga Sêca-São João do Polêsine da rodovia quando colidiu lateralmente em um outro veículo que vinha em sentido oposto

Abril 

• Carmelina da Rosa, 79 anos, morreu atropelada ao tentar atravessar a rodovia em São João do Polêsine. O acidente aconteceu na altura do km 134 da ERS-149, que fica entre Faxinal do Soturno e São João do Polêsine
• No outro caso, Mauro Escobar, 50 anos, morreu ao ser atropelado em trecho de Restinga Sêca

2018

Julho

• Ciclista José Adriano da Silva Rodrigues, 47 anos, morreu ao ser atingido por uma caminhonete na ERS-149, próximo ao Trevo do Santuário, no acesso a Faxinal do Soturno

Agosto

• Liliane Terezinha Cavalheiro, 53 anos, foi atropelada por um Gol quando tentava cruzar a rodovia. Ela morreu no local

Setembro 

• Três jovens, Marcelo de Melo, 20 anos, Augusto Gonçalves Borges, 23, e Ana Cláudia Cassol Heinsch, 25, morreram em um acidente na 149, em Formigueiro. A caminhonete em que estavam capotou a 6 km da cidade 

Outubro 

• O empresário Marco Fank conduzia uma motocicleta pela ERS-149, em São João do Polêsine, quando teria perdido o controle do veículo em uma das curvas da estrada e colidido contra um poste