
Quantas eleições cabem em 101 anos de vida? Para Rosa Dalla Lana Marafiga, o suficiente para uma coleção de histórias e um exemplo vivo de cidadania. Apesar da idade, a moradora de São Martinho da Serra, antigo distrito de Santa Maria, não abre mão de exercer o direito ao voto. Ela até brinca que, agora, é até mais fácil votar, já que conta com a ajuda da família no deslocamento. É que, durante a vida, foram longos trechos percorridos a pé.
– Tem que ir votar. Toda vida, eu votei, já estou com 101 anos – afirma dona Rosa.

Da primeira votação até aqui, já se passaram algumas décadas, mas ela lembra como se fosse ontem. Na época, ela e a família, constituída por 11 irmãos, moravam em uma pequena estação chamada Villa Etelvina – uma ferrovia que partia de Santa Maria. Ela lembra que o primeiro voto foi para o ex-presidente Getúlio Vargas, influenciada pelo pai. Desde nova, o diálogo em casa sempre foi primordial para a escolha do voto.
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Só a ditadura militar, em voga no Brasil de 1964 a 1985, foi impedimento para que dona Rosa exercesse o direito ao voto. Em outros anos, a presença dela no pleito era garantida, mesmo que, para isso precisasse, percorrer longos trechos – por vezes, a pé. Além das viagens atrás da seção eleitoral, o voto em papel também entra para a coleção de histórias:
– Tinha que juntar bem os papéis e, daí, votava para prefeito, deputado, senador... Onde eu “tava”, eu votava. Para isso, ia muito longe, viajava a pé quase para ir votar. Agora, eles vêm até me buscar em casa – conta a centenária, referindo-se ao auxílio de familiares.
Para escolher o candidato, diálogo e um bom chimarrão
Boa parte das histórias sobre eleições, ela dividiu com o marido, Tolentino Flores Marafiga, 96 anos. Casados há 67 anos, a receita para escolher um bom candidato está no diálogo, acompanhado de um bom chimarrão.
– Sempre votamos no mesmo candidato, nunca brigamos. E sabe qual a melhor maneira de resolver uma questão, como a política? Nada melhor do que um chimarrão e uma conversinha bem “miudinha” – conta seu Tolentino.

Ele, que se considera “o porteiro de São Martinho”, já que a propriedade do casal fica no limite entre Santa Maria e o município, também é um colecionador de histórias quando o assunto é política. A maior loucura, conforme ele, foi viajar 300 quilômetros para votar, de Frederico Westphalen, norte do Estado, a Pelotas, Região Sul. Hoje, mais sossegado, acompanha o período eleitoral pelo rádio e aposta na conversa com os conhecidos para a escolha do candidato. Seu Tolentino diz que não abre mão de votar, porque tem consciência da importância do voto para o município:
– Eu acho que o voto é livre, como diz. Mas é da consciência da gente ajudar com o voto e resolver os problemas do município. Por isso, eu sempre escolhi bem. Um voto muda o município. E o prefeito tem que trabalhar, precisa ser operoso. Se ele não trabalha, já viu...
Exemplo que ultrapassa gerações

O exercício da cidadania do casal tem sido exemplo, principalmente para a família. Para quem está por perto e acompanha a determinação da Dona Rosa e do seu Tolentino, o voto e a política são temas “sagrados”.
– O nosso voto, apesar de ser pessoal, envolve muito a questão da nossa ética, porque a ideologia que vamos defender mostra muito sobre o que nós pensamos. Eu vejo neles um exemplo porque o voto é um poder. E nós precisamos valorizar quem sabe usar esse poder – conta Alycia Marafiga, 18 anos, que é bisneta do irmão de Tolentino.
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