"Não queremos prejudicar ninguém": sindicato cobra diálogo e indica greve em 2026; paralisação afeta 100% das linhas do transporte coletivo

Foto: Vinicius Becker

Uma paralisação total do transporte coletivo urbano deixou Santa Maria sem ônibus na manhã desta terça-feira (23). O ato foi organizado pelo Sindicato dos Trabalhadores e Condutores de Veículos Rodoviários (Sitracover) e atingiu 100% das linhas, segundo a entidade. A expectativa do sindicato é que o serviço seja retomado entre 9h e 10h desta terça.

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De acordo com o presidente do Sitracover, Rogério Santos da Costa, a mobilização não é caracterizada como greve, mas como um ato pontual de protesto diante de atrasos salariais e da falta de diálogo com o poder público.

— A gente tá fazendo um ato, não é uma greve. Ficaremos em torno de quatro a cinco horas parados. Vamos ver durante o dia se há uma movimentação, se não retornamos amanhã da mesma forma — afirmou.


Motivações

Segundo Rogério, a paralisação foi motivada por uma sequência de problemas nos pagamentos aos trabalhadores. Inicialmente, a principal preocupação era a segunda parcela do 13º salário, situação parcialmente resolvida após o repasse de R$ 1,5 milhão feito pela prefeitura na última sexta-feira (19). No entanto, novas pendências surgiram.

— Num primeiro momento era a segunda parcela do 13º, isso acabou quando a prefeitura deu o subsídio de R$ 1,5 milhão. Agora ficou para trás o ticket de alimentação, cuja data-base era dia 15 e não foi pago. E, para nossa surpresa, hoje de manhã foi depositado apenas 50% da quinzena salarial — relatou.

O dirigente sindical criticou a ausência de interlocução por parte do Executivo municipal e afirmou que a crise poderia ser amenizada com uma atuação mais direta da prefeitura.

— Uma prefeitura, que tem responsabilidade com o transporte urbano e público, em outras cidades nessa altura já teria feito um gabinete de crise, já teria chamado as partes para conversar. Não temos diálogo algum. A prefeitura não dialoga conosco, e sabemos que nem os empresários recebem (respostas). Essa é a dificuldade de comunicação com a prefeitura — disse.


Possibilidade de greve

Rogério também alertou para o risco de agravamento do cenário caso não haja avanços nas negociações. Segundo ele, o sindicato já avalia os próximos passos legais.

— Até o trabalhador resolver paralisar geral, nós faremos a tratativa legal para a greve por tempo indeterminado — afirmou.

Além da situação imediata, o Sitracover também projeta um início de 2026 com tensão nas negociações salariais. O sindicato pretende antecipar o debate sobre reajuste e não descarta novas paralisações a partir de fevereiro.

— Este ano faremos diferente. Já tivemos uma reunião para tratar de reajuste salarial e os empresários já disseram que não têm proposta nenhuma devido à bagunça que está o transporte urbano de passageiros. Queremos o reajuste dentro do mês de fevereiro. Se houver paralisações, vão começar a partir de fevereiro, com possibilidade de greve — declarou.

Segundo o presidente do sindicato, as próprias empresas já admitem dificuldades para manter os pagamentos em dia. 

— Os empresários já disseram que estão com dificuldade e não sabem se terão dinheiro para pagar o salário até o quinto dia útil — completou.

Rogério reforçou que os trabalhadores não desejam prejudicar a população, mas cobram responsabilidade do poder público diante da importância do transporte coletivo.

— O transporte urbano está ao lado da saúde e da educação na Constituição. Não é possível que a gente continue todo ano fazendo paralisações e prejudicando a população. Não queremos prejudicar ninguém, queremos respeito e responsabilidade da prefeitura. Hoje tem muitos querendo sair do setor pela desvalorização do profissional — afirmou.


Contexto da crise

A ameaça de greve ocorre em meio à crise previdenciária enfrentada pelo município, que provocou atrasos nos repasses ao Sistema Integrado Municipal (SIM). A Associação dos Transportadores Urbanos (ATU) estima que os subsídios em atraso cheguem a R$ 15 milhões, valor que pode alcançar R$ 20 milhões se considerados encargos. A prefeitura afirma que ainda não concluiu o cálculo do montante devido e pede cautela em relação aos números apresentados pela entidade.

Na última sexta-feira (19), o Executivo municipal repassou R$ 1,5 milhão, valor que, segundo a ATU, foi suficiente para quitar o 13º salário da maior parte dos trabalhadores, mas não cobriu outras obrigações, como vale-alimentação e salários.

Sobre a paralisação, a ATU informou que a decisão cabe ao Sitracover e pediu paciência ao sindicato e aos trabalhadores diante da crise financeira do município.

Em nota, a prefeitura de Santa Maria informou que acompanha a manifestação das empresas de ônibus do transporte público urbano de Santa Maria e que, com relação ao pagamento dos funcionários, trata-se de uma relação entre empresas e trabalhadores.


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