Um ano depois, o que representa o selo da Unesco para o geoparque Quarta Colônia

O território que há 233 milhões de anos serviu de lar para os dinossauros mais antigos do mundo é o mesmo que hoje trabalha para manter o selo de geoparque da Unesco. Desde a entrega da certificação, em setembro de 2023, a região ganhou visibilidade nacional e mundial. Reportagens em diversos veículos de comunicação do Brasil e do mundo destacaram o Geoparque Global. Além disso, a Quarta Colônia passou a participar de eventos nacionais e internacionais de turismo e de geoparques, em cidades como Rio de Janeiro, Torres, Gramado e Porto Alegre, além do Nordeste brasileiro.

Agora, o trabalho é para manter o reconhecimento. Para isso, investimentos em sinalização, ações para valorização do patrimônio, incentivo aos empreendimentos locais e participação em eventos internacionais fizeram parte da rotina. O Diário elencou as principais ações realizadas no último ano e conversou com representantes do geoparque para entender o trabalho de manter o título de geoparque Quarta Colônia.


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O “sonho geoparque”, como referem-se os representantes do Consórcio de Desenvolvimento Sustentável da Quarta Colônia (Condesus), teve início muito antes do envio da carta de intenções à Unesco, realizado em 2020. Em diversas oportunidades, os representantes dos municípios já trabalhavam na infraestrutura, na educação patrimonial nas escolas, na valorização do território e em estudos que comprovassem a contribuição científica na área da paleontologia.

Foi, a partir dessa bagagem que, quando o projeto do geoparque saiu do papel, parte das exigências da Unesco, como educação patrimonial, a existência de um consórcio e a presença de algo singular no planeta, já estava materializada. Em 2019, o Condesus ainda contou com a atuação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) que trouxe ações de extensão aos municípios.

A concretização do trabalho veio em setembro de 2023, com o selo da Unesco. De lá para cá, o trabalho tem sido para manter a certificação, que recebe nova avaliação de quatro em quatro anos. Nos últimos meses, conforme a oficial administrativa do Condesus, Juliana Paula Vendruscolo, o foco tem sido a realização de projetos estruturantes como sinalizações e a divulgação do geoparque:

Valorizar o patrimônio dentro do território e, a partir disso, gerar renda. É esse o nosso principal objetivo, fazer com que as pessoas se apropriem desse patrimônio e façam dele um gerador de renda. Que os turistas comprem produtos qualificados e que tenham procedência baseados em um geopatrimônio que são nossos fósseis, nossa cultura alemã, italiana e afrodescente e nossa gastronomia.

O último ano foi, também, marcado pelo cuidado do geoparque com a reconstrução dos municípios após as enchentes de maio. Apesar disso, para o diretor do geoparque, Victor de Lima Maffini, foi um primeiro ano de avanços:

– As enchentes duraram um mês, mas as consequências vivemos até hoje. Nas moradias, produção… principalmente no interior. E outras questões também, como a natureza do ano eleitoral porque muda muito da legislação e como o geoparque trabalha. Foi um ano atípico, mas conseguimos nos organizar e reestruturar. Estamos planejando os próximos passos e expandindo, principalmente, a nossa participação na rede de geoparques, seja na rede brasileira, seja na rede internacional.


Visita dos avaliadores 

Finalizado o trabalho de tornar a Quarta Colônia um aspirante a geoparque da Unesco, era hora de receber visita dos avaliadores. De 24 a 27 de outubro de 2022, o olhar de quem é de fora se encantou com a gastronomia, a cultura, as paisagens e a paleontologia. A comissão de avaliação foi composta por Hernández Sesé, do Geoparque Maestrazgo/ Dinópolis (Espanha) e Helga Chulepin, representante da Unesco em Montevidéu (Uruguai).

Avaliadores durante visita à Quarta ColôniaFoto: Nathália Schneider (Arquivo/Diário)

Ao lado de representantes do Condesus e da UFSM que trabalhavam de forma conjunta na gestão do projeto geoparque, os avaliadores estiveram em pontos dos nove municípios como o Cerro Comprido, a Cascata Cara de Índio, os sítios paleontológicos e o Cappa. Após a visita, enviaram suas opiniões ao conselho da organização.

Foram sete meses de espera. Em 24 de maio, o resultado. A Quarta Colônia passava a ser, aos olhos do mundo, um geoparque. O anúncio aconteceu após o 216º Conselho Executivo da Unesco realizado em Paris, na França. Na mesma data, Caçapava do Sul também conquistou o selo. 


Cerimônia em Marrocos 

Em uma mistura de orgulho, resistência e apreensão, o selo da Unesco foi entregue em Marrocos.  Isso porque, um dia antes, a cidade passou por um terremoto de magnitude de 6,8 e deixou mais de dois mil mortos. Por isso, a cerimônia – antes prevista para acontecer no auditório principal do Centro Cultural Habous – aconteceu de forma improvisada em um grande lonão, na cidade de Marrakech. A pró-reitora adjunta de Extensão da UFSM e coordenadora científica do geoparque na época, Jaciele Sell, foi quem recebeu, emocionado, o certificado.

Foto: Deni Zolin (Arquivo/Diário)


Sinalização 

Uma das primeiras ações enquanto geoparque, foi investir na sinalização da Quarta Colônia. Com ela, geossítios, pontos turísticos e outras tantas localizações não passam mais despercebidas. Mais do que apontar o caminho, as placas carregam explicações sobre o lugar visitado. O geossítio da Linha São Luiz, por exemplo, localizado no município de Faxinal do Soturno tem, logo no início do trajeto, uma placa sobre a “terra dos pequenos notáveis” – uma alusão às espécies, de pequeno porte, encontradas por ali. Todas possuem, também, informações em inglês, uma das exigências da Unesco.

Conforme o prefeito de Faxinal do Soturno, Clóvis Montagner, no último ano a sinalização foi finalizada. O trabalho, agora, é a manutenção da mesma:

– Em uma segunda fase, vamos ampliar e modernizar a sinalização. A ideia é o turista chegar e não precisar parar tanto para pedir informação. 

Placa de sinalização do geossítio da Linha São LuizFoto: Beto Albert


Participação em eventos

Outra atuação do último ano esteve na participação em eventos. Um dos mais recentes foi a Conferência da Rede de Geoparque da América Latina e do Caribe, realizada em Torres, em novembro deste ano. Foram dezenas de geoparques de quase todo o continente. Meses antes, a equipe também esteve no Rio de Janeiro para representar os geoparques do Brasil em evento organizado pelo governo federal.

Conforme Maffini, é uma oportunidade de diálogos com outros geoparques e com entidades envolvidas na pauta:

– Esse do Rio de Janeiro, foi um convite do Ministério do Turismo. Eles abriram essa porta, sem ser um pedido nosso. Então, tivemos não só a visibilidade mas a oportunidade de conversar com a Unesco Brasil e ministérios do governo federal.


Na rota de turistas e o reconhecimento internacional 

O reconhecimento pela Unesco e os investimentos na região levaram a Quarta Colônia à rota dos turistas. É unanimidade entre os empreendimentos e os pontos turísticos visitados pelo Diário no último mês que a procura tem aumentado. São curiosos pela cultura, pelos sabores da região, pelos pontos turísticos e, sobretudo, pela ciência.

A descoberta dos dinossauros mais antigos do mundo, que levou a Quarta Colônia a certificação internacional e o registro no Guinness Book, também é motivo de reconhecimento internacional. Os últimos achados são prova disso. A descoberta do fóssil de um antecessor dos dinossauros, em Paraíso do Sul, foi destaque em sites e jornais como The New York Times (EUA), The Gazette (EUA), Independent (Inglaterra), CBC (Canadá), Indian Express (Índia), e agência internacional Reuters.

Para Kerber, a divulgação internacional, reconhece a pesquisa do Cappa e também serve de vitrine para o geoparque:

– Toda vez que sai um artigo novo, tentamos compartilhar os principais resultados com a mídia e o público geral. Assim, qualquer pessoa consegue ler e entender um texto técnico. Como os fósseis encontrados aqui tem uma importância muito grande, acaba tendo uma visibilidade muito grande. Então, qualquer espécie nova, chama a atenção. Foi um longo processo até a certificação e a paleontologia está diretamente ligada com o geoparque. Acaba servindo de vitrine para algo muito maior.

Além de divulgação internacional das descobertas, o Cappa recebe cerca de 5,5 mil visitantes ao anoFoto: Nathália Schneider (Arquivo/Diário)

Datas importantes:

  • 1996 - Criação do Condesus
  • 2003 - Início do processo de registro da marca Quarta Colônia
  • 2012 - A Quarta Colônia se insere no cenário mundial da paleontologia por meio do Cappa
  • 2020 - Envio da carta de intenções à Unesco
  • 2021 - Submissão do Dossiê de candidatura a Geoparque Mundial da Unesco 
  • 2022 - Avaliação feita por integrantes da Unesco, que vieram conhecer todos os geossítios do geoparque Quarta Colônia
  • 2023 - Certificação como Geoparque Mundial da Unesco


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