Centenários

José Carlos Campos Velho

O envelhecimento populacional é um fenômeno demográfico que ocorre quando a proporção de pessoas idosas em uma população aumenta em relação à proporção de pessoas jovens. É a chamada transição demográfica. Uma de suas características é a modificação da pirâmide populacional, a representação gráfica da população dividida em faixas etárias, que pode representar um local, uma cidade, uma região, um país ou o mundo. 


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Mesmo representações da subpopulações podem ser estudadas: a população rural, os trabalhadores da área da saúde, os artistas... Esse processo é resultado de vários fatores, incluindo a melhoria na qualidade de vida, avanços na medicina, redução das taxas de natalidade e aumento da longevidade. 


Dentro do aumento da longevidade, outro fenômeno observado pelos demógrafos é o alargamento do ápice da pirâmide populacional, com o aumento paulatino do número de pessoas muito idosas, particularmente aqueles com mais de 85 anos. 


Nonagenários, centenários e os supercentenários, que é como podemos nos referir às pessoas com mais de 110 anos, têm sido observados com frequência cada vez maior na população.

 
Melhores condições de vida, como saneamento básico, acesso à saúde e educação e o desenvolvimento de novas tecnologias e tratamentos médicos contribui para a redução das taxas de mortalidade. Surgem novos desafios econômicos, como o aumento dos custos com previdência social e saúde e mudanças no mercado de trabalho, levando a necessidade de adaptação para a inclusão de trabalhadores mais velhos. Observa-se significativo impacto nas estruturas familiares e a necessidade de estruturação de cuidados para os idosos, o que afeta de maneira importante a dinâmica familiar.

 

Número de idosos
No Brasil, o número de idosos cresceu 57,4% em 12 anos, passando de 7,4% para 10,9% da população. Em Santa Maria, nos últimos 10 anos, a população de 60 anos ou mais cresceu impressionantes 48,3%, conforme apontado pela pesquisadora Gilda Benaduce, do Departamento de GeoCiência da UFSM.

 
Estudos sobre centenários, pessoas que alcançam ou superam os 100 anos de idade, oferecem valiosas informações sobre os fatores que podem contribuir para a longevidade extrema. Fatores genéticos, estilo de vida saudável, dieta equilibrada, exercício físico regular e manutenção de uma rede social ativa são alguns dos elementos para que se alcance uma vida longa e saudável. Resiliência e a capacidade de adaptação à mudanças também são características observadas entre os centenários.


Porém, algo peculiar acontece com estas pessoas, pois a longevidade extrema é um processo bastante individual. Lembro-me de uma ocasião, na década de 1990, em que assisti à uma palestra em um congresso de geriatria, em São Paulo, com o médico Samuel Bravo Williams, que havia estudado os centenários mexicanos. Ele observou que a maior parte deles vinha de classes econômicas menos privilegiadas, com pouco acesso à cuidados de saúde, frequentemente de áreas rurais, e que precisavam continuar trabalhando para a manutenção de seu sustento, como cuidar de uma horta e dos afazeres de casa. 


Embora algumas “regras” sejam vistas quando se fala de coletividades, os casos individuais por vezes não necessariamente respeitam estas mesmas regras. Parte destes idosos mexicanos continuava fumando, o que se contrapõe à qualquer consenso médico sobre o tabagismo como fator de encurtamento da expectativa de vida da pessoa.

Estudos médicos
A experiência médica com os centenários ainda é muito estreita. Estamos apenas tateando. Começamos a entender um pouco melhor a abordagem dos nonagenários, mas ainda estamos engatinhando. Poucos estudos médicos incluem estas pessoas nos grupos estudados. 


O conhecimento ainda é bastante empírico. Portanto, dificilmente você encontrará um médico que possa afirmar que tem uma larga experiência com paciente centenários. Se o afirmar, provavelmente estará agindo de maneira ingênua ou de má-fé. Parece que, na abordagem médica dos centenários, a ideia do “menos é mais” deveria preponderar. Menos medicamentos, menos intervenções, menos exames. 


Decisões intempestivas, como hospitalizações desnecessárias, deveriam ser evitadas, buscando-se sempre respeitar os valores e as decisões expressas pelos familiares. Compartilhar as decisões é essencial. Cuidados paliativos devem fazer parte do ideário médico nestas situações.

 
Os centenários trazem novos desafios e oportunidades para a sociedade. Políticas públicas precisam ser adaptadas para atender às suas necessidades, incluindo cuidados de saúde, o apoio social e as oportunidades de engajamento comunitário. Suas narrativas podem servir de inspiração para gerações mais jovens, oferecendo lições valiosas sobre o envelhecimento e suas mazelas. Boa parte destes idosos preferem uma vida mais introspectiva e voltada à família. Nem sempre a melhor atitude é insistir para que tenham uma vida comunitária mais intensa, embora alguns a tenham.

 
Celebrar a vida dos centenários, reconhecendo suas contribuições e destacando seu papel na história viva de suas comunidades não apenas honram os indivíduos, mas também reforçam a importância de cuidar e valorizar nossos idosos.


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