Foto: Marcelo Oliveira
A tuberculose continua sendo um dos principais desafios da saúde pública no Brasil. De acordo com o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, foram notificados cerca de 85 mil casos novos no país em 2024. No mesmo ano, ocorreram 4.816 mortes associadas à doença. Embora haja avanços em algumas estratégias de diagnóstico e tratamento, os números colocam o Brasil distante das metas estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que prevê a redução global do número de casos até 2035.
+ Receba as principais notícias de Santa Maria e região no seu WhatsApp
Entre os públicos de maior incidência, está a população privada de liberdade. A situação deste grupo tem chamado a atenção no Rio Grande do Sul e principalmente, em Santa Maria, onde foram confirmados de presos em tratamento contra a tuberculose na Penitenciária Estadual (PESM).
Cenários estadual e local
A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, também conhecida como bacilo de Koch. Embora afete principalmente os pulmões, pode atingir outros órgãos como ossos, rins e meninges, deixando o paciente debilitado. Segundo o Informe Epidemiológico da Secretaria da Saúde (SES/RS), foram confirmados 5.509 novos casos em 2024, com uma taxa de incidência de 48,7 por 100 mil habitantes.
No mesmo período, o Estado registrou 389 mortes por tuberculose. Um dos pontos críticos apontados pelos boletins oficiais é a situação da população privada de liberdade. O Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS/RS) destacou que, em 2024, a taxa de incidência nessa população foi de 1.297 casos por 100 mil pessoas, o que significa um risco mais de 25 vezes superior ao da população em geral.
A professora do curso de Farmácia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Marli Matiko Anraku de Campos, que recentemente criou uma ferramenta de teste rápido para diagnóstico de Tuberculose, destaca que a doença pode ser caracterizada por tosse prolongada, febre vespertina, suores noturnos, emagrecimento sem causa aparente e cansaço.
A superlotação das unidades prisionais, as condições de ventilação e a dificuldade no acompanhamento contínuo do tratamento são fatores que ampliam a propagação da doença.
– Em ambientes fechados, os bacilos expectorados pelos doentes irão permanecer no local e outra pessoa pode inspirar e adquirir o bacilo. Deve-se levar em conta o controle de transmissão, busca ativa de contatos e vigilância epidemiológica intensificada que devem ser rápidos para bloquear a transmissão e também os doentes devem ser monitorados diariamente quanto a ingestão de medicamentos- comentou sobre o recente caso.
- Luiz Marenco abre a agenda de outubro do Theatro Treze de Maio; confira a programação completa
- Carregador rápido de carro elétrico é retirado da Praça do Caridade; entenda o motivo
No dia 12 de setembro, foi confirmada a existência de presos em tratamento na Pesm, todos acompanhados pelas equipes de saúde do sistema penitenciário. A Polícia Penal afirma que os protocolos de isolamento e administração de medicamentos estão sendo seguidos, o que, segundo a instituição, impede que a situação fosse classificada como surto.
A tuberculose é causada por uma bactéria que atinge principalmente os pulmões, mas pode comprometer outros órgãos. A transmissão ocorre pelo ar, quando uma pessoa infectada tosse, fala ou espirra em ambientes fechados e com pouca ventilação.
– Em situações como a da Pesm a questão do isolamento se torna muito complicada. Para evitar a propagação é importante manter a ventilação natural cruzada e separar os doentes para celas arejadas. Melhorar a ventilação e diminuir a lotação de cada cela pode ajudar – orienta.

Testagem
Santa Maria já emitiu 172 notificações de possíveis casos de tuberculose neste ano e de acordo com a secretaria de saúde, grande parte ainda está em acompanhamento pelas equipes. Destes, 99 casos positivos foram registrados a partir de testes rápidos moleculares, 41 por meio do teste LF-LAM (Lipoarabinomanano, utilizado para diagnóstico em pessoas vivendo com HIV), 25 reingressos de pacientes que haviam abandonado o tratamento e 7 casos de recidiva (quando a doença retorna após a alta por cura). O número já é maior do que o total registrado em 2024, quando foram 162 casos com atendimento na cidade.
Neste ano, em Santa Maria, já foram feitos 1.275 testes rápidos moleculares. O período de tratamento é de, no mínimo, seis meses, com uso contínuo de medicamentos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A interrupção ou abandono do tratamento pode levar ao desenvolvimento de formas resistentes da doença, que demandam terapias mais longas e complexas.

Em relação à região Central, os números estaduais apontam para a necessidade de manter a vigilância ativa. Embora não haja registros oficiais de aumento abrupto em Santa Maria e municípios próximos, a concentração de casos em populações privadas de liberdade coloca o município em posição de atenção especial. A secretaria orienta que os municípios reforcem campanhas de esclarecimento, ações de busca ativa de casos e acompanhamento constante de contatos de pessoas diagnosticadas.
– Não se torna um desafio só de órgãos de saúde, uma estrutura intersetorial seria adequada. A saúde, justiça, administração penitenciária e assistência social devem agir juntamente para prevenção – finalizou a professora.
Apesar dos desafios, Marli ressalta que a tuberculose é uma doença curável quando tratada corretamente, sendo a detecção precoce, o acompanhamento sistemático dos pacientes e a garantia de acesso universal aos medicamentos a melhor estratégia.
Características da tuberculose
Sintomas mais comuns
- Tosse persistente por mais de três semanas, com ou sem catarro
- Febre baixa, geralmente no final do dia
- Suor noturno
- Cansaço e fraqueza
- Perda de peso e falta de apetite
Como ocorre a transmissão?
- A tuberculose é transmitida pelo ar, quando uma pessoa infectada tosse, fala ou espirra. O risco é maior em locais fechados, pouco ventilados e com aglomeração de pessoas
Tratamento
- O tratamento é gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e dura, no mínimo, seis meses. É feito com antibióticos específicos que devem ser tomados diariamente, sem interrupção. A adesão completa ao tratamento é fundamental para a cura e para evitar formas resistentes da doença
Onde buscar ajuda
- Em Santa Maria, qualquer Unidade Básica de Saúde (UBS) pode ser procurada em caso de suspeita. O diagnóstico pode ser feito por meio de exames clínicos, radiológicos e laboratoriais, incluindo o teste rápido molecular